O concurso de "Aperos Crioulos de Pelotas"

foto: Fernanda Souza

Protagonista mítico da história do Rio Grande do Sul, o “gaúcho histórico”, forjador da tradição crioula, que vivia sob o lombo do cavalo, seu único e maior bem, dedicou-lhe especial cuidado e atenção, sobre tudo no que se refere à forma de encilhá-lo.
Assim surge o conjunto de peças necessárias à equitação gaúcha, denominadas de aperos, (palavra que vem do espanhol e tem sua origem nas ferramentas de arar dos primeiros colonizadores), uma ferramenta funcional, por vezes objeto de orgulho e ostentação, dado a arte e bom gosto empregados na sua confecção, inseparáveis do gaúcho quando á cavalo e fora dele, serviu ainda de abrigo e cama para o descanso.
Em abril de 2008, durante a Expotono, realizou-se na Associação Rural de Pelotas, um evento a muito ansiado por aficionados e admiradores da equitação gaúcha e suas tradições, trata-se do Concurso de Aperos, o primeiro em seus moldes realizado no Brasil.


Foto: Fernanda Souza
Organizado pela Comissão que o idealizou, formada por Rodrigo Lobato Schlee, Fábio Cazaubon Soares, Fernanda Valente de Souza, Juliano Wiener Bolzoni e o Núcleo Sudeste de Criadores de Cavalos Crioulos, resultou em um surpreendente desfile de pura tradição campera, onde o bom público que esteve presente pode apreciar aos concorrentes, que se apresentaram montados em cavalos crioulos, com suas pilchas domingueiras e seus aperos de luxo ou rústicos “preparos” de trabalho, resgatando usos e costumes a tempo desaparecidos, como a clássica bota de “garrão de potro” ou a legendária “boleadeira”, artigos imprescindíveis em épocas de superação e adaptação ao meio, testemunhas da história de um tipo humano que chamou-se “gaúcho”, apelido estendido ao povo que herdou a sua dignidade e o orgulho pelas coisas simples do campo.

Foto:Alexandre Teixeira
Foto: Eduardo Amorim
Pioneiro no Brasil, o concurso desvendou um grande número de admiradores, assim como despertou o interesse de outros vários, demonstrando sem dúvida que há muito que se fazer neste sentido, a carga cultural e artística, presente na forma do gaúcho encilhar seu cavalo, não pode continuar resumida a meras citações literárias ou a espontâneas participações em desfiles tradicionalistas.
foto: Fernanda Souza
Com quase três séculos de história, é chegada à hora do povo que ama o campo, adora o cavalo, desfruta da musica, danças e culinária típica, conhecer melhor e valorizar a rica tradição que há nos aperos crioulos, entendendo em suas origens, transformações e adaptações que resultaram em um típico subproduto do meio, com sua manufactura artesanal que se utilizando da matéria prima disponível, esmerou-se na busca de funcionalidade e beleza estética.

A intenção em se criar um concurso como este, surge com os propósitos, de resgatar e divulgar a história do apero crioulo riograndense, sua evolução através do tempo, seus diferentes estilos e utilidades, assim como seus métodos de fabricação, produto de ofícios quase que extintos, como o de “guasqueiro”, “prateiro”, “ferreiro”, “correeiro”, “tecelão”, e outros.
Objetivando-se preservar, revitalizar e manter esta tradição, incentivando a pesquisa de usos e costumes regionais, expor e valorizar o trabalho em couro, metais e têxteis, utilizados em sua confecção, bem como fomentar a produção desses segmentos.
Proporcionar a integração entre aficionados e apreciadores de regiões diversas do estado e fora dele, e acima de tudo oportunizar ao público em geral, apreciar de perto, peças e acervos de conteúdo histórico, que somente poderiam ser vistas em museus ou coleções privadas.
Foto: Fernanda Souza
Com a repercussão e o sucesso obtidos no primeiro concurso, consolidou-se como um evento a ser ampliado e reeditado, o que felizmente motivou os organizadores a promover a sua segunda edição.

foto:AlexandreTeixeira

O 2º Concurso de Aperos se realizará na Associação Rural de Pelotas, durante a Expooutono no mês de abril de 2011, promovido pela mesma Comissão idealizadora da primeira edição, formada por Fernanda Valente de Souza, Fabio Cazaubom Soares, Juliano Bolzoni e Rodrigo Lobato Schlee, com o apoio do Núcleo Sudeste de Criadores de Cavalos Crioulos NSCCC.

Pretende-se com a seqüência na realização desta competição, impedir o desaparecimento de uma tradição genuinamente gaúcha, um patrimônio que foi símbolo de uma época, e pode hoje ajudar-nos a entender o passado, incentivando aos participantes para que amparados na pesquisa histórica, recriem peças e estilos de uso no passado. O que propiciará ao publico em geral, apreciar e conhecer um pouco mais da nossa história.


foto: Fernanda Souza Há uma complexa e rica diversidade nos tipos e estilos de aperos, decorrentes das transformações ocorridas no tempo, o material do qual são feitos e o uso à que se propõe, mais fortes para a doma e trabalho, mais frágeis e luxuosos para o passeio, sem falar-se em peculiaridades regionais.


Preocupada em valorizar cada um desses aspectos, a comissão organizadora do concurso, criou categorias que os diferem como de “aperos de luxo” ou ”trabalho”, ambas com subdivisões.


Também uma terceira que se chamou de “temático” onde o participante escolhe um personagem da história ou da literatura gauchesca para representar, devendo o seu apero e “pilchas” corresponder a tal época.


Acrescentou-se ainda a categoria “Amazona”, onde será retratada a antiga forma feminina de cavalgar, fazendo-se uso do “selim”.



Em todas as categorias o participante apresenta-se com vestimenta típica e correspondente ao período em que se usou determinado apero, montado em cavalos crioulos que também seguem estilos, como formas de tosos de crina, nós de cola, pelagens, e o sexo do animal, já que o gaúcho tradicional sempre preferiu andar em machos castrados.


A forma de cavalgar é a clássica gauchesca, com o apero no meio do lombo, rédeas na mão esquerda e rebenque ou relho na direita, tronco reto, estribos com loros compridos e somente a ponta do pé no estribo.


Denomina-se apero, todo conjunto de peças necessárias à montaria ao estilo gaúcho, que também o chama de “arreios”.


foto: Fernanda SouzaA seguir descreveremos resumidamente e de forma genérica, as principais peças que compõem ou que compuseram o apero tradicional riograndense, o que se faz no intuito de melhor ilustrar o tema abordado.


-preparo, também chamados de “cordas”, são as peças usadas principalmente para conter e direcionar o cavalo, está composto de cabeçada, rédeas, bucal, peitoral, rabicho e maneia, são geralmente feitas de couro cru trançado ou de tiras chatas de soga (couro cru sovado) sobrepostas e costuradas.


Nos preparos de luxo, há os de finos trançados de tentos e os adornados com prata ou metal branco e não raras vezes com aplicações de ouro.


Também faz parte do preparo o “fiador” ou “gargantilha”, peça em desuso atualmente, foi muito comum no passado, usado no lugar do bucal, que era mais empregado na doma, consiste em uma espécie de colar colocado no pescoço do cavalo, na altura das orelhas, e tinha a função de prender o cavalo quando atado à soga (uma tira comprida de couro também chamada de “maneador”), que permitia que o mesmo pudesse pastar.


Nos fiadores de luxo há alguns inteiramente de prata, servindo mais como um adorno dado à fragilidade e delicadeza de sua confecção.


-chergão, feito de lã, espécie de manta feita em tear ou feltro do mesmo material, de formato quadrangular, é a peça que entra em contato direto com o lombo do cavalo e serve para protege-lo do peso que carrega, o que obriga a usar-se por vezes mais de um. Antigamente usou-se ainda abaixo deste uma pele ovina sem curtimento com a lã curta.


-carona, feita de sola, com um formato retangular, é colocada logo acima do chergão, tem a função de isolar o resto do apero e o ginete, do suor do cavalo, e também o protege do atrito, antigamente quando se usou o lombilho, usava-se uma carona de couro cru com pelo, abaixo da de sola, com uma manta de lã ou o próprio poncho dobrado entre uma e outra, servia para isolar mais ainda do suor, e proteger seu lombo ao percorrer longas distâncias.


-lombilho, serigote e basto, peça central do apero, consistem em um tipo de sela e servem para proteger o lombo do cavalo do peso e atrito, tornar o acento mais confortável e é também onde se prende os estribos, dando firmeza ao ginete.
Primeiramente o gaúcho usou o lombilho (uma adaptação das sillas ou selas herdadas de espanhóis e portugueses) feito de sola ou couro cru, de fabricação quase caseira, tinha as basteiras (parte de baixo que serve para proteger o lombo do cavalo) feitas de junco.
A partir de 1860 o lombilho foi sendo gradativamente substituído pelo serigote, que adaptado do antigo lombilho, teve sua criação influenciada pela imigração alemã, com a introdução de suas técnicas de curtimento e correaria, suas basteiras eram feitas de crina ou serragem e colocadas sob uma armação de madeira.
Por fim surge o basto, feito de sola, com basteiras de junco, crina ou serragem, não possui armação, é geralmente separado em duas partes unidas por um tento, substituiu o serigote e é usado até os dias de hoje.

foto: Fernanda Souza

-cincha- usada para fixar o apero no cavalo, se divide em três partes, o ravessão, feito de couro cru ou sola, com duas argolas grandes, os láticos de couro cru, e a barrigueira, que nas antigas era de couro cru, e posteriormente feitas de ramais de cordão de materiais existente na época como o algodão.


-estribos e loros- usou-se feitos de ferro, prata, metal branco, bronze, osso, aspa de carneiro ou couro, onde o cavaleiro coloca os pés para se equilibrar, havendo vários tipos e modelos. Antigamente eram mais estreitos permitindo colocar somente a ponta do pé. O gaúcho primitivo improvisava-o atando um pedaço de osso a uma tira de couro, estribando entre os dedos com a bota de garrão de potro de meio pé.


foto: Eduardo Amorim


-pelego e cochinilho- o pelego é uma pele ovina com lã, usada para amaciar o acento ao cavalgar, pode-se usar um ou mais sobrepostos, antigamente usou-se os de ovelha crioula com longas mechas e sua cor natural geralmente moros, chamados de pelego de lã de ponta ou lã de cachorro, mais tardepassou-se a usar os de lã tupida, mais denso e fofo, de cor branca ou escuro de ovelha preta, sendo estes os mais preferidos.


O “cochinilho”, uma espécie de pelego, era feito aplicando-se mechas de lã ou fios de fibras naturais em uma manta de tear, foi usado especialmente em aperos de luxo.


-badana- de formato retangular e pouco menor que o pelego, usada sobre este, tem a função de protege-lo das intempéries e suavisar o acento com sua textura macia, podem ser feitas com diversos tipos de couros, de capincho, pardo, camurça, vaqueta e nas de luxo usou-se também tecidos como o veludo, finamente bordados com fios de seda colorida.


-sobrecincha- similar à cincha, é usada para fixar os pelegos no apero, assim como é nela que o laço esta fixado quando em uso, dividida em três partes, o travessão, feito de couro cru, sola ou o mesmo material da badana nos de luxo, láticos e barrigueira do mesmo tipo que na cincha porém mais estreita, poderiam ser de apertar com fivela. Faz parte também a “assideira”, que é uma argola presa ao conjunto e que serve para prender a presilha do laço.


-laço- peça que surgiu com o gaúcho nos primordios da colonização, durante as caçadas de gado e cavalhadas “chimarronas”, perdura até os dias de hoje da mesa forma, tem o formato de uma corda comprida, e é feito de 4, 6 ou 8 tentos de couro cru trançados, medindo geralmente 12 braças, de 25 a 30 metros, tem uma argola grande de ferro em uma ponta e uma presilha na outra.


-rebenque, relho, mango, rabo de tatu e fusta-, diferentes tipos de um instrumento usado com a mesma finalidade, estimular e castigar com seu açoite o animal, o rebenque é geralmente feito de um cabo de madeira dura forrada com couro, por onde é agarrado, e uma tala (tira de couro chato que açoita o animal), o relho é um cabo de madeira com uma soiteira comprida (de couro trançado), o rabo de tatu é feito inteiramente de couro cru trançado e uma argola grande, a fusta é uma tala mais leve e fina usada por mulheres ou para correr carreiras.


Em quase todos há uma espécie de pulseira de couro onde o jinete o leva pendurado junto ao pulso, chamado de fiel.


Nos relhos e rebenque de luxo, os cabos são ornados quando não inteiramente, com detalhes de prata.


-boleadeira- peça de inegável origem indígena, foi de uso corrente entre a gauchada antiga, arma e instrumento de caça, eram feitas geralmente com bolas de pedra, presas e unidas por sogas. Levavam-na atada à cintura ou sobre a badana, sentando o ginete sobre elas, o que permitia-lhe ter-las sempre a mão, com a rapidez de quem saca uma arma. Existiu de distintas formas como a de duas bolas, para “caçar avestruzes” (ema), e de três para quadrúpedes.


Para tornar-lhes menos violentas, o gaúcho substituiu a pedra por outros materiais, como por exemplo, uma mistura de “cacos de panela” e “sangue coalhado”, por fim acabou se extinguindo seu uso, pelo alto risco de quebrar o animal que estava sendo capturado.


As boleadeiras de luxo, eram feitas com bolas de marfim e aplicações de prata, o gaúcho tambémtambém chamou-as de “três marias”.


-esporas - usada na equitação desde épocas remotas, foi uma peça indispensável e de destaque para o gaúcho, que as preferia de exagerado tamanho. Eram feitas geralmente de ferro e atava-se a bota com tentos de couro cru.


As de luxo eram de prata ou metal branco e algumas com correias de malha do mesmo material.


foto: Alexandre Teixeira



-freio - é a peça usada na boca do cavalo, usada para guiar e sujeitar o animal, geralmente eram feitos de ferro, nos de luxo são colocadas copas de prata, (detalhe com formato de disco) nas laterais, e "babador" ou "pontesuela" que além de adornar também impedia que o cavalo pastasse quando montado.



- Categorias:


1) Apero de luxo prateado


2) Apero de Luxo Prateado e Sógas


3) Apero de Luxo com Sógas


4) Apero de Trabalho


5) Temático


6)Amazona



-Descrição das categorias e suas características:


1) Luxo Prateado


foto: Alexandre Teixeira Esta categoria retrata um período impreciso que começa em fins do séc. XVIII e se estende ao longo do séc. XIX, caindo em desuso quase que total já na primeira metade do séc.XX.

Surgem quando havia na região um relativo acesso a metais nobres como a prata, e aproveitando-se disso o homem do campo riograndense que se locomovia quase que exclusivamente a cavalo, tratou de incorporar o metal em seus artigos de montaria e indumentária, que tinham o couro como principal componente.

A difusão desse costume fomentou o surgimento de prateiros crioulos, herdeiros das técnicas de ourivesaria portuguesa e espanhola, que passaram a confeccionar cabeçadas estribos, relhos e toda uma gama de objetos destinados a adornar o “pingo” como afetuosamente o gaúcho chama seu cavalo.

Geralmente tais aperos eram usados em passeios e festas domingueiras, assim como em marchas militares onde oficiais exibiam brasões partidários cunhados no metal.

O uso de um apero prateado ou "chapeado", simbolizava não apenas uma condição financeira, mas também valentia e sorte, pois sua aquisição além da compra poderia se dar também através do jogo, apostando nas patas de um parelheiro, na cancha de osso, carteado ou até mesmo em uma peleia, (durante as revoluções, havia o costume de quem fazia um prisioneiro, ficava com o cavalo e os arreios dele). Situações essas, que permitiram ao humilde gaúcho, possuir um apero de luxo, deixando de ser um privilégio de poucos abastados.

O que caracteriza esta categoria é uso quase que exclusivo do metal na feitura de algumas peças, no caso a prata e o ouro, principalmente no que se refere ao “preparo”.

Eram confeccionados de distintas formas, podendo ser: de chapas articuladas, fundidas em prata e trabalhada manualmente com variadas técnicas de ourivesaria como: burilado, cinzelado, batido, vazado e etc...; canutilhos (finos canudos de prata) unidos um a um por fios do mesmo metal, e intercalados por florões e chapas articuladas; malhas de prata, finos fios de prata trançados, ou na forma de elos encaixados, formando uma fina malha de variados formatos, arredondadas, chatas ou meia cana, intercaladas por florões, chapas, passadores quadrados ou cilíndricos com soajes e bombas do tipo barril ou redonda, ambas maciças.

Os preparos de malha de prata se destacam por sua rara beleza e intrincada técnica, obra de exímios prateiros riograndenses de outrora, inicialmente foram usados no estado e posteriormente pelos vizinhos platinos.

foto: Fernanda Souza
Exemplo de peças que podem compor um apero da categoria luxo prateado:

Preparo em prata com ou sem aplicações de ouro, (chapas articuladas, canutilhos ou malhas): cabeçada, buçal ou fiador (um ou outro), peitoral, maneia e rabicho; baixeiro de pele ovina, xergão de lã; carona de couro cru com pêlo (no caso de uso de lombilho); manta ou poncho (intermediários, no caso de uso da carona com pelo e lombilho); carona de sola; lombilho ou serigote, ambos com chapas de prata nas cabeças; estribos de picaria ou tipo inglês de prata com passador chato ou redondo do mesmo material, travessão de cincha de couro cru ou sola; barrigueira de fios de material não sintético, couro cru ou trançada de tentos; pelego de lã (lã de ponta ou de cachorro) ou cochinilho de mechas de lã ou fios de material não sintético; badana de capincho, pardo, camurça ou tecido não sintético como por exemplo veludo; travessão da sobre cincha do mesmo material da badana, formando conjunto com esta, podendo ser de fivela ou com barrigueira de material similar ao da cincha.


Complementos: laço de couro cru trançado de oito, seis ou quatro tentos e argola de ferro ou metal branco (não podendo ser de aço inox ou cromado); boleadeira de luxo (marfim, prata); espora de prata; relho (de preferência) ou rebenque, ambos com cabos de prata.


Pilcha do ginete devendo corresponder à epoca e ao estilo (festivo e formal), sugere-se: chiripá com calça de crivo, camisa branca de algodão, colete com casaco curto; bombacha, camisa branca, colete e casaco curto ou tipo paletó (do mesmo tecido da bombacha); poncho ou pala de fibra natural (lã ou seda) e fina trama; chapéu de preferência negro de aba curta e copa alta, botas de garrão com ponta costurada (no caso de chiripá) ou preta.Lenço, guaiaca e faca também mantendo o mesmo padrão. Não é adequado a este estilo por ex.: botas campeiras de vaqueta ebombacha atual de marca.


2- Luxo Prateado com sógas.


foto: Fernanda SouzaRepresenta os aperos usados em um período igual ao descrito na categoria anterior, porém havendo diferentes estilos e particularidades.


Sua característica decorre do fato de usar-se em sua feitura, a prata ou o metal branco, intercalada com o couro cru ou sola, o metal é usado como detalhe aplicado no couro, diferente do anterior que era feito quase todo em prata. Neste caso os preparos são de couro chato ou trançado, com aplicações de bombas, passadores, virolas e florões que podem ser de prata pura ou variações como metal branco, prata alemã ou alpaca, materiais introduzidos a partir da industrialização da metalurgia, ocorrida em fins do séc. XIX, período contemporâneo à introdução da bombacha e do serigote.


São vários os estilos que se enquadram nesta categoria, porém deve ser levado em conta o período que se quer retratar, por exemplo: Na segunda metade do séc. XIX, o serigote aos poucos passou a substituir o lombilho, a bombacha o chiripa, e o metal branco à prata, sendo que esta, apesar ter sido diminuída a sua aplicação, não caiu em total desuso a exemplo do lombilho e do chiripa. Portanto ao fazer uso do serigote, o adequado é usar-se a bombacha, e quando de lombilho o chiripá.

foto;Fernanda Souza

Exemplos de peças que podem compor um apero da categoria Luxo prateado com sógas:


Preparo (cabeçada, bucal ou fiador, peitoral , maneia e rabicho) de couro cru com bombas e/ou passadores, chapas e florões e argolas de prata ou metal branco, com ou sem detalhes em ouro, lombilho ou serigote com chapas de prata ou metal branco, estribos e passadores de loro do mesmo material.


O basto não foi mencionado por entender-se que se trata de peça de uso mais recente e associada de certa forma ao apero de trabalho, mas não excluí-se o seu uso. O restante das peças que compõem este apero, são as mesmas descritas na categoria anterior inclusive na indumentária, observando-se a liberalidade de substituir–se a prata pelo metal branco e lembrando que se trata de aperos de festa.



3- Luxo com sógas.


foto: Eduardo Amorim


Esta categoria trata de aperos usados no mesmo período abordado anteriormente, que vai desde o surgimento do gaúcho histórico até os dias de hoje.Quando o gaúcho quis armar um apero de luxo, utilizando em sua confecção somente o couro, usou de toda a sua criatividade e habilidade para criar peças de chamar a atenção em dias festa ou como diziam em um “domingo de carreiras”, onde a gauchada presente comumente andava de aperos com pratarias.


A escassez da prata em determinada época, também pode ter incentivado o gaúcho a substituí-la por finos trabalhos de tento, obra de exímios “guasqueiros“.


Criou-se assim um estilo que tem como característica o elaborado e vistoso trabalho em couro, principalmente no “preparo”, feito basicamente de sóga e lonca, apresenta finas tranças de 12, 16, 24 ou mais tentos, chatas ou redondas de revestimento, longos “corredores” como são chamados os passadores que às arrematam, bombas e botões forrados com finíssimos tentos. Também há os de sóga chata, bordados com tentos finos, formando curiosos desenhos, inspirados outrora nos elementos florais, ferrarias e mosaicos que haviam nas casas de antigas estâncias, o mesmo ocorrendo nos trançados.


Com destaque para o trabalho em couro, evita-se o uso de metais como a prata e o metal branco, exceto nas argolas do preparo.


Todo conjunto apresenta similaridade nos formatos e motivos, fazendo jogo entre si.


Os estribos são preferencialmente de ferro, aspa de carneiro, osso, couro ou bronze, e os loros de couro fazendo conjunto com o preparo.


foto: Fernanda Souza


Sugestões de peças que podem compor um apero de luxo com sogas:


Preparo completo (cabeçada, rédeas, bucal, cabresto, fiador (quando não usar buçal, peiteira ou peitoral, rabicho e maneia), trançado de couro cru, ou de sóga chata ponteada com lonca. Rebenque ou relho fazendo conjunto com o preparo.


As demais péças do apero são as mesmas mencionadas nas categorias anteriores, procurando-se evitar o uso de peças de prata, como no caso de estribos, esporas, boleadeiras e rebenque.


O lombilho e serigote não precisam ter necessariamente cabeças chapeadas.Incluí-se nesta categoria o basto, já que o mesmo passou a ser usado em aperos de festa, mesmo que num passado mais recente. O mesmo para os pelegos que podem ser de lã tupida.


A pilcha do ginete, segue o mesmo estilo festivo mencionado nas categorias anteriores, destacando quando possível o trabalho em couro como no caso da gaiaca, bainha de faca, etc...


4- Trabalho.


foto: Fernanda Souza


Esta categoria aborda o apero de trabalho, destinado ao serviço de campo, desde as primeiras estâncias, é uma ferramenta de uso diário até os dias de hoje. Foi e é o tipo de apero mais utilizado pelo gaúcho, e do qual descendem todos os outros, estendendo-se o seu uso a todas atividades eqüestres do meio rural, seja no manejo com gado, doma, tropeadas e outros. Funcionais, simples e fortes, os aperos de trabalho ou “garras” como também são chamadas pelo peão de campo (quem muitas vezes os fabrica e conserta), tem o feitio rústico, apropriado á dura lida, que o expõe ao desgaste e a intempéries.


Evoluindo à no mínimo três séculos, resultou no apero usado atualmente, que mesmo com algumas transformações, não perdeu suas características tradicionais. Esta categoria irá avaliar aperos de trabalho de distintas épocas juntamente.


Sugestões de peças que podem compor um apero de trabalho:


foto: Alexandre TeixeiraPreparo completo de couro cru, trançado ou de sóga chata ponteada a lonca, chergão, caronas de sola ou couro cru, lombilho, serigote ou basto, pelego. Sendo complementos, o laço, maneador, boleadeira (se andar de lombilho por ex.), tirador, poncho, rebenque, relho, rabo de tatu ou outros, estribos de material forte como ferro e latão, o mesmo para as esporas e freio, que inclui-se o aço inox, desde que em aperos atuais.


A pilcha é a de trabalho e de acordo com a época que se quer retratar.


5- Temática.


foto: Alexandre TeixeiraO participante escolhe um personagem da história, literatura regional ou um tipo característico da temática gaúcha, apresentando-se com pilchas e aperos contemporâneos ao que está se representando, a exemplo das categorias anteriores.


Exemplos de personágens ou tipos que podem ser representados nesta categoria:


-Changueador ou gaudério;

-Índio missioneiro;

-Lanceiro Farrapo;

-Blau Nunes;

-Guerreiro maragato, chimango ou outro;


6- Amazona.


Categoria que retrata a antiga forma feminina de montar, onde a mulher ou amazona utilizava-se do “selin”, uma espécie de sela na qual sentava-se de lado, ficando com as duas pernas do lado esquerdo, e fazendo uso de apenas um estribo.


Poderão usar-se selins tradicionais de sola, veludo, com ou sem prata ou outro metal, xeréu de tear, manta de lã ou cherga de feltro, cabeçada e rabicho de sola, couro cru, prata ou outro metal, estribos dos tipos sandália, de prata, metal branco, amarelo ou forrado de sola ou veludo, fusta, pinguelim ou chicote.

A vestimenta da amazona deverá ser o antigo traje feminino de montaria, de duas peças fazendo conjunto, os complementos são: luvas, chapéu, botas e fusta ou chicote.

Pesquisa e texto: Rodrigo Lobato Schlee e Fernanda Valente de Souza

08/06/2008